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O Design é bonito e parece com um cavalo na decoração

Atualizado: 21 de mai. de 2019

Já parou para pensar o que é o Design?

Será um desenho ou simplesmente algo bonito para enfeitar o ambiente?

Se eu colocar um cavalo na minha sala por exemplo, posso considerar como um Design inovador?


E sobre o termo: design de sobrancelhas, tão utilizado na atualidade? Seu emprego está correto?

Muitas dúvidas existem sobre o termo design. Uma palavra poderosa, porém, com inúmeros significados incorretos.


Para sanar as diversas dúvidas e questionamentos, preparamos uma entrevista com o renomado professor e perito na área, Wagner Bandeira. Acompanhe abaixo a explicação e visão do professor sobre esse assunto.

  • O design sempre deve remeter ao belo? Sim, mas não somente. Como uma profissão que tem por meta estabelecer relações entre os produtos e as pessoas, a experiência estética demonstra ser de vital importância. Embora seja relevante ressaltar que a experiência estética não remete somente ao encantamento dos olhos, mas a todos os sentidos do corpo. Eventualmente, a repulsa visual pode ser uma proposta de produto, se a intenção é provocar o nojo, por exemplo. O que não deixa de ser uma experiência estética. Entretanto, outras dimensões do produto podem possuir grau de importância até maiores do que a beleza, como a usabilidade, a funcionalidade, o custo, o respeito ambiental, os aspectos éticos etc.

  • Como diferenciar design de uma peça de enfeite? Pelo uso. Em princípio, os projetos no design possuem objetivos definidos, geralmente equilibrando dimensões estética, funcionais, de uso, simbólicas e semânticas. No entanto, como estão inseridos na cultura, os produtos podem ter seus usos direcionados de acordo com os valores de cada um. Nada impede que alguém use um cartaz de um filme para decorar seu quarto (eu mesmo já fiz isso), mas essa não é sua função original. A priori, nada determina que um produto do design será ou não usado como enfeite, até mesmo porque nada impede que se faça design de peças decorativas. O que diferenciaria a priori seria mesmo a orientação do produto como descrito pelo seu criador.

  • Em outros países, o termo design é aplicado igual no Brasil? Sim. Na verdade a palavra design significa intenção, desígnio, concepção. Neste sentido pode-se falar em Design Inteligente, por exemplo, um termo criado nos Estados Unidos para servir como um argumento entre o Criacionismo e o Evolucionismo. Na língua inglesa, aliás, o termo design é usado em muitos contextos fora da nossa profissão. Projetos arquitetônicos, por exemplo, são chamados também de design, assim como qualquer configuração visual de desenho e objetos.

  • Até que ponto funcionalidade e design devem estar em sintonia? Funcionalidade é um dos aspectos do design. Ao lado da estética, do uso, dos aspectos simbólicos, dos fatores produtivos, ambientais, econômicos dentre outros. Ao conceito de funcionalidade, refiro-me aos fatores relacionados à realização de uma ação específica correspondente à natureza do produto. Por exemplo, um cartaz foi feito para transmitir uma mensagem visual – essa é sua funcionalidade. Eventualmente surgem relativizações ao termo considerando, por exemplo, o conceito de "funcionalidade estética". Semanticamente não estaria errado, mas não contribui com a clareza na caracterização das dimensões do design. Indo diretamente à pergunta, isso vai depender do projeto. Se um produto tem uma dimensão estética mais relevante que as outras dimensões, sua funcionalidade pode ser menos complexa (se não considerarmos estética como uma funcionalidade, como dito anteriormente), como no caso de objetos decorativos, por exemplo. Mas um vaso, ainda que seja somente para decorar, precisa ficar de pé, portanto há sempre uma funcionalidade intrínseca aos objetos que precisa ser considerada.

  • Ter um design de qualidade pode significar um diferencial peso? Sem dúvida. Um bom projeto deve considerar todas as dimensões de um produto, inclusive as relações entre investimento e retorno. Ela evita o "barato que sai caro". Um produto que tem sua funcionalidade garantida, boa satisfação do usuário e excelente durabilidade nunca é caro demais. Embora seja relevante ressaltar que o preço de um produto nem sempre é determinado somente pelo seu design, mas pelo mercado que atende a questões que estão, muitas vezes, além do próprio produto, como é o exemplo dos livro digitais e impressos. Pensa-se, erroneamente, que livros impressos deveriam ser mais caros que os digitais, dado a sua materialidade física. No entanto, aspectos como publicidade, direitos autorais, impostos etc. fazem com que o produto digital, algumas vezes, seja até mais caro que o analógico.

Exemplifique algo na atualidade que é design, mas muitos não consideram. O design de serviços é um campo de grande crescimento. Trata-se da concepção e desenvolvimento de estruturas e atividades que permitem maior eficiência na realização de serviços ao usuário. Há uma cena no filme "Fome de Poder" (The Fouder, 2017) em que os fundadores do McDonald's planejam a arquitetura e as ações para maior eficiência na produção dos lanches, e esquematizam em uma quadra. Isso também é design.
Cena do Filme "Fome de Poder" (The Founder, Diamond Films, 2017).
Cena do Filme "Fome de Poder" (The Founder, Diamond Films, 2017).

  • Por que as pessoas confundem tanto design com desenho? Quando os cursos de design chegaram no Brasil, por volta dos anos 60, vieram com a proposta curricular da Europa, mas com a designação de "Industrial Design". Nos países de língua espanhola a tradução foi "Diseño Industrial". A tradução portuguesa pegou esse "diseño" e por aproximação traduziu como "desenho". No entanto, a palavra espanhola para desenho é "dibujo" e a inglesa é "draw". Mas como os primeiros cursos adotaram o nome "Desenho Industrial" seu uso como tradução para design acabou se inserindo na cultura.

  • Para a criação de um logotipo é necessário um design? Que tipo seria esse design? Na verdade, a criação de um logotipo é um processo de design. Seu contexto se dá na concepção, planejamento, desenvolvimento e implementação de toda a estratégia de comunicação visual de uma empresa. O campo que trabalha com esse desenvolvimento é o design de identidade visual, que não pode ser confundido com branding, que é o campo que cuida da gestão da identidade da empresa, podendo essa ser feita por um designer ou não.

  • Para você, um grande estudioso da área, o que acha das pessoas que, por falta de tempo ou condições financeiras, utilizam os métodos do livro (Design Para Quem Não é Designer)? Não vejo problema nenhum. É um excelente livro para quem não é profissional da área. A única ressalva é que sua abordagem é meramente tecnicista e o design vai muito além dos aspectos técnicos. Mas dadas algumas condições precárias, uma abordagem técnica pode ser a única possível e, neste caso, é um livro que recomendo.

Deixe sua última observação sobre o título - Design é bonito e se parece com um cavalo na sala.
Cavalo na decoração - (Foto: Reprodução/Pinterest)
Cavalo na decoração - (Foto: Reprodução/Pinterest)

Ainda que a dimensão estética no design seja de extrema importância, ela é um fator que deve ser equalizado com as demais dimensões de um produto. Há um movimento no design editorial que, inclusive, prega o conceito de "tipografia invisível", no qual a funcionalidade do texto deixaria ao leitor somente a mensagem textual e não seu veículo visual tipográfico. Ainda que tal premissa seja ilusória, tendo em vista que não ultrapassamos a visualidade para obter uma mensagem pura, é fato que os aspectos formais da fonte não devem contradizer, mas antes reforçar a mensagem. Nesse sentido, um bom produto do design não se caracteriza pela evidência estética tão inconveniente como um cavalo na sala. Por outro lado, há uma tendência atual no tal "design minimalista" que busca uma "racionalização" anacrônica nas formas em detrimento das experiências estéticas que podem proporcionar. Penso que é uma atitude reacionária, típica de profissionais inseguros com sua área de atuação. Em geral, são os mesmos que bradam em alto som que "design não é arte". Discordo, pois nós, designers, devemos muito à arte e ela está muito à nossa frente. Precisamos aprender a ver o mundo como os artistas veem. Somente assim alcançaremos as pessoas em suas reais necessidades.

Entrevistado: Wagner Bandeira

Cargo atual: Professor FAV UFG

E-mail: wiccket@gmail.com

Instagram:@wiccket


Jornalista: Juliana Gléria



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